ESCRITOR QUER EMANCIPAÇÃO DO PÓS-ANHANGUERA


Luiz Biajoni é jornalista e escritor, o autor que colocou Americana no cenário literário brasileiro com seus livros Elvis & Madona, A Comédia Mundana e A Viagem de James Amaro, publicados pela editora carioca Língua Geral. Ele mora e escreve seus livros em uma casa no Jardim Brasil. E tem se tornado uma voz ativa na luta por melhores condições do bairro e do Pós-Anhanguera. Criou até uma página no Facebook nesta semana (https://www.facebook.com/posanhanguera/). Ele defende também a emancipação daquela área, o que muitos consideram uma loucura. Ele discorda: acha que o debate deve começar já para que isso aconteça nos próximos 10 ou 15 anos. “Quando isso acontecer, vão dizer que eu comecei essa discussão”, ele diz. Trabalhei com o Bia, como é conhecido, e conheço algumas das suas posições polêmicas. O blog conversou com o escritor…

BLOG: Por que você acha que o Pós-Anhanguera deve ser emancipado?

BIA: Primeiro, porque o morador de lá não se sente um americanense. Quando alguém do Iate, do Zanaga ou da Praia Azul precisa de algo, ir ao banco, ir ao médico, ver uma atração cultural (que são escassas), ele diz: vou para Americana ou vou para a cidade. Quem mora no Pós Anhanguera mora numa zona obscura; são vários bairros distantes física, emocional e financeiramente, sem uma noção de unidade ou pertencimento. Era preciso criar uma unidade aqui. Depois, temos a falta dos aparelhos públicos: falta creche, posto de saúde, segurança. O morador daqui vê tudo isso “do lado de lá da pista”, então acha que mora num lugar qualquer, sem direito a esses benefícios sociais. E se cala. Há ainda a falta de água, constante e cada vez maior nos últimos 20 anos. Há 10 anos minha mulher promoveu um panelaço para reclamar. Hoje, dez anos depois, a situação está muito pior. Nos últimos 30 dias tivemos 3 períodos de falta d´água de 4 dias cada, o que dá quase meio mês sem água! Se a região fosse emancipada, podíamos dar um jeito nisso. Poucos sabem que o Rio Piracicaba nasce no Zanaga. Tem água aqui. Dava pra ter uma captação com tratamento para todo o bairro. Além de tudo isso, o bairro pode ser autossustentável com os impostos de moradores, comerciantes e empresas e como turismo, já que temos a represa e as praias. Com independência podíamos ser como a cidade de Brotas, que se emancipou de Rio Claro e tem 23 mil habitantes, menos da metade do que tem o Pós Anhanguera.

BLOG: Emancipar representaria um grande impacto econômico para a Americana…

BIA: Toda a arrecadação do Pós Anhanguera vai para os cofres da prefeitura e vemos poucos benefícios aqui! Sinceramente, isso passaria a ser um problema do outro lado da pista – e aí as pessoas iriam ver pelo que passamos! Como pode haver apenas uma agência bancária e uma lotérica para que o cidadão possa pagar suas contas em uma região de mais de 40 km2 e com mais de 50 mil habitantes? Não há representação política que olhe para o Pós Anhanguera, que mexa os pauzinhos para que as coisas aconteçam…

BLOG: Você mesmo disse que é difícil e pode demorar muito para isso acontecer…

Enquanto isso…

BIA: O povo tem que se mobilizar. Como eu disse, existe a distância física dos bairros e abismos econômicos entre moradores, por exemplo, do Iate e da Praia Azul, mas, em algumas medidas, todos sofremos com os problemas da região, como a falta d´água por exemplo. Tem que sentar todo mundo junto para conversar – e eu estou começando esse processo.

BLOG: A falta d´água é o principal problema, não?

BIA: Sim. Para mim é bastante óbvio que o sistema todo de abastecimento de Americana está falido: o DAE não vai mudar esse quadro, não há dinheiro para substituir boa parte da rede, o caminho não é reformar de maneira capenga o que existe há 50 anos. Tem que conceder o serviço para uma empresa especializada. Uma empresa que garanta o abastecimento de qualidade mediante um contrato, com ampliação, tratamento adequado, tratamento de esgoto, etc… Deviam ter feito isso há 10, 15 anos, agora o DAE está tão sucateado que vai ser difícil achar quem queira assumir essa bomba. Mas essa é a única solução, nem se for pra dar o DAE de graça. A adutora que leva água para o Pós Anhanguera é uma piada. A região cresceu 300% em 15 anos e é o mesmo caninho que leva água pra todo mundo ali… É ridículo, falta água todo final de semana. Sem contar que aquela ligação antiga e fodida passa exatamente ao largo do cemitério da Saudade e não dá pra descartar a contaminação da água por necrochorume, resultado da decomposição dos corpos.

BLOG: Você não tem nenhuma intenção política com suas posições e nunca foi filiado a nenhum partido, mas já trabalhou em eleições, fez trabalhos profissionais nesse sentido, foi secretário municipal em Limeira… o que acha da administração do Omar Najar?

BIA: Tenho reservas. Ele é uma unanimidade, todos gostam do jeitão truculento e a aura de honestidade incontestável. Isso é bom; a primeira observação leva para um mito, a segunda não constitui, em separado, um bom político. Foi impelido a assumir a bucha deixada por Diego DeNadai, inclusive por gente que deixou o Diego crescer e fazer o que fez com a cidade. O que ele precisa, eu acho, é buscar assessores competentes, dar condições para o pessoal trabalhar, com arrojo e ousadia, e ser simpático, acessível ,dialogar com a oposição… Essa parte deve ser a mais difícil para ele.


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Publicado em: 5 de fevereiro de 2016 Autor: nwmidia Categoria: CIDADES

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